Abril 5, 2021

Francine Benoît

Francine Benoît (1894-1990) foi compositora, regente, pedagoga e crítica musical. 

Francine Germaine van Gool Benoît nasceu a 30 de Julho de 1894 em Périgueux, França, filha de mãe belga e pai francês. A família mudou-se para Portugal em 1906, onde Benoît se veio a estabelecer profissionalmente, tendo adquirido nacionalidade portuguesa em 1929. 

Iniciou os estudos musicais na Academia de Amadores de Música, onde foi aluna de Tomás Borba (1867-1950) e de Eugénio Costa. Entre 1914 e 1917 estudou com Alexandre Rey Colaço (1854-1928), Marcos Garin (1875-1955) e António Eduardo da Costa Ferreira (1875-1966) no Conservatório Nacional, onde se formou em piano e composição. Foi aluna de Vincent d’Indy (1851-1931) na Schola Cantorum, no ano lectivo de 1917/1918. 

Deu início à sua actividade pedagógica em 1919, quer em aulas particulares, que continuaria até ao fim dos seus dias, quer em instituições de ensino como a Escola Oficina n.º 1 de Lisboa, a escola francesa para raparigas Madame Péchenard, jardim-escola João de Deus, Voz do Operário, Instituto de Música de Coimbra, e a Academia de Amadores de Música. Entre as suas centenas, senão milhares de discentes, contam-se Maria da Graça Amado da Cunha (1919-2001), Emanuel Nunes (1941-2012), ou Maria João Pires (1944). Dirigiu inúmeros coros, entre os quais se salientam o coro da Voz do Operário e o coro infantil da Associação Feminina Portuguesa para a Paz. Entre palestras e artigos em periódicos, a sua produção escrita estendeu-se desde a segunda década do século vinte até meados da década de 1980. Colaborou com vários periódicos, desde a revista Ilustração, passando pela Revista de PortugalSeara NovaAfinidadesDe Música,Revista do Conservatório de Música do PortoOs Nossos Filhos, ou o Jornal-Magazine da Mulher, salientando-se pela prolixidade os jornais Diário de Lisboa e A Capital.

Francine Benoît foi, juntamente com Fernando Lopes-Graça (1906-1994) e Maria da Graça Amado da Cunha, co-fundadora e colaboradora da Sociedade de Concertos Sonata (1942), dedicada à divulgação da música moderna, e da Gazeta Musical (1950), periódico dedicado à cultura musical portuguesa e sedeado na Academia de Amadores de Música. A acção de Benoît no panorama cultural português esteve dependente do seu posicionamento político feminista, pacifista e antifascista. Neste âmbito, integrou o MUD, foi próxima de individualidades da oposição comunista, integrou a Associação Feminina Portuguesa para a Paz e o Movimento Democrático de Mulheres.  

A produção musical de Benoît estendeu-se desde 1916 a 1983 e engloba obras para piano, composições e harmonizações para coro, e música orquestral, salientando-se a canção para canto e piano e música de câmara. A sua Fantasia-Suite para orquestra (1964) recebeu o prémio de composição da Fundação Calouste Gulbenkian em 1965. A cantata O Caçador e a Princesa (1954) para coro infantil e orquestra foi comissionada pela mesma Fundação. O seu catálogo conta com perto de cinquenta obras, estando várias delas lamentavelmente perdidas.

Helena Lopes Braga

Fontes:

Braga, Helena Lopes. 2013. “De Francine Benoît e algumas das suas redes de sociabilidade: Invisibilidades, género, sexualidade entre 1940 e 1960”. Dissertação de Mestrado em Musicologia Histórica, FCSH, Universidade Nova de Lisboa.

Calado, Mariana. 2010. “Francine Benoît e a cultura musical em Portugal: Estudo das críticas e crónicas publicadas entre 1920 e 1950”. Dissertação de Mestrado em Musicologia Histórica, FCSH, Universidade Nova de Lisboa.

Vieira, Ana Sofia. 2011. “Estudio de la actividad musical, compositiva y crítica de Francine Benoît”. Tesis doctoral en Didáctica de la Expresión Musical, Plástica y Corporal, Faculdade de Geografía e História, Universidade de Salamanca.

Foto: Centro de Investigação e Informação da Música Portuguesa – MIC.PT