Abril 4, 2019

Elvira de Freitas

Compositora, directora de orquestra, pianista e pedagoga, Elvira de Freitas nasceu a 8 de Junho de 1927 em Lisboa, sendo filha de Frederico de Freitas e Consuelo de Freitas. Iniciou os seus estudos musicais com Etelinde Valente e com Santiago Kastner, ingressando aos 17 anos no Conservatório Nacional. Diplomou-se em Piano na classe de Lourenço Varella Cid e em Composição com António Eduardo da Costa Ferreira e Jorge Croner de Vasconcelos, estudando ainda com o seu pai e com Fernando Lopes-Graça a título particular. Foi bolseira do Governo Francês em 1957 e da Fundação Calouste Gulbenkian em 1959, tendo estudado na École Normale de Paris com Nadia Boulanger e no Conservatório Superior de Música de Paris com Olivier Messiaen.

Obteve o 1.º prémio no concurso de marchas populares de Lisboa em 1955 com a Marcha do Bairro Alto, tendo sido convidada a dirigir a Orquestra Ligeira da Emissora Nacional no mesmo ano. Para esta orquestra escreveu e harmonizou diversas canções para um programa mensal intitulado “As nossas melodias”, em parceria com outros compositores como Fernando Carvalho, João Nobre e Belo Marques.

Em 1957 obteve a sua carteira de profissional como chefe de orquestra pelo Sindicato Nacional dos Músicos, dirigindo para a Emissora Nacional até 1967. Em 1954, Elvira de Freitas fez provas públicas para professora de Canto Coral dos Liceus, tendo leccionado na Escola Técnica Nuno Gonçalves, no Colégio dos Olivais, e no Liceu Camões, onde ganhou o concurso “A Mocidade Canta o Natal” (1967 e 1968), ensaiando ainda um coro no Asilo de S. João na década de 1960.

A sua produção contém harmonizações corais a 2, 3 e 4 vozes, bem como obras originais para coro, em parte utilizadas em contexto pedagógico. Como consequência desta experiência, edita em 1974 o manual didáctico Cantar é Bom, em parceria com Frederico de Freitas, no qual estão inseridas grande parte das suas harmonizações corais. Foi professora do Conservatório Nacional entre 1974 e 1978, e, a partir de 1978, leccionou ainda no Instituto Gregoriano de Lisboa as disciplinas de Composição Superior, Contraponto, Fuga, Análise e Piano.

A sua obra abrange vários géneros musicais entre os quais marchas, fados, canção harmonizada e orquestrada, para além de repertório erudito coral, sinfónico, de câmara ou a solo. Destacam-se a Sonata para piano (1950), Estruturas Poéticas (1969) para piano e violoncelo, Herança (1966) para voz, piano e percussão, ciclos de canções como Quatro Canções para Ela (1950), Quadras (1950) ou Os Insectos (1959), o poema radiofónico O Natal dos Meus Meninos (1956), o bailado O Passeio Público (1957), o teatro infantil A Floresta Encantada (1957), Bartolomeu Marinheiro (1961) para coro, solistas e orquestra, As Profecias do Bandarra (1967) para a comédia em dois actos de Almeida Garrett, e …E as caravelas de Cabral (1971) para três vozes iguais e orquestra. Compôs ainda obras vocais com poemas de autores como Garcia Lorca, José Blanc de Portugal, Sebastião da Gama, Olegário Mariano ou Manuel Bandeira.

A partir da década de 1970 colaborou na edição de discos de fado das cantoras Ada de Castro e Sara Gi, com textos de autores como Fernanda de Castro, Manuela de Moura, Sá Teles Santos, Alberto Lopes, Jerónimo Bragança e Barata Feio.

Em 1971 obteve uma Menção Honrosa no Prémio Nacional de Composição Carlos Seixas com Excertos para uma Missa de Requiem para quatro vozes à capela, ex aequo com o Stabat Mater do seu pai.

A par da sua obra musical, dedicou-se também à pintura e à escrita. Entre as obras por publicar incluem-se o romance infanto-juvenil A Quinta das Camélias ou os poemas Cristais, bem como as memórias sobre Frederico de Freitas escritas entre 1984 e 1986. Foi crítica musical nos jornais O Tempo e Novidades, bem como colaboradora da Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (Verbo).

André Vaz Pereira

Fontes: 

Documentação do espólio de Elvira de Freitas, Biblioteca da Universidade de Aveiro.

Corte-Real, Maria de São José. 2010. “Freitas, Elvira Manuela Fernandez de”. In Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, editada por Salwa Castelo-Branco, vol. 2, 522-523. Lisboa: Círculo de Leitores.

Freitas, Elvira de. 1967. “A estreia de Elvira de Freitas”. Autores. Boletim da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses 38 (X): 21.

Jesus, Eduardo de. 1986. “Freitas (Elvira Manuela Fernandez de)”. In Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, vol. 21, 585-586. Lisboa: Editorial Verbo.