Abril 4, 2019

Berta Alves de Sousa

Berta Cândida Alves de Sousa (1906-1997) foi compositora, pianista e maestrina. Professora no Conservatório de Música do Porto, cidade onde viveu quase toda a sua vida, destacou-se pela diversidade da sua actividade artística.

Nasceu a 8 de Abril de 1906 em Liège (Bélgica). A família cedo se mudou para o Porto, cidade cuja vida artística começava nesta época a competir com a da capital. Berta Alves de Sousa cresceu num ambiente familiar de apego à cultura que lhe proporcionou contacto com os mestres da música, literatura e pintura, não só antigos como contemporâneos.

Frequentou o curso de piano do Conservatório de Música do Porto que concluiu, com a classificação máxima, na classe do professor Luís Costa. Estudou também com Lucien Lambert, Cláudio Carneyro e Vianna da Motta e no estrangeiro com Theodor Szánto e Wilhelm Backhaus (piano), Georges Migot (composição) e Clemens Krauss (direcção de orquestra). Colaborou ainda com Bernardo Moreira de Sá, Fernando Lopes-Graça e Maria Clementina Pires de Lima. Inspirada pelo eclectismo dos seus mestres, Berta Alves de Sousa consolidou também uma carreira muito diversificada.

Realizou inúmeros recitais a solo e em formação de câmara na cidade do Porto, e por todo o país, destacando-se as apresentações com Leonor Alves de Sousa, Rui de Lacerda, Guilhermina Suggia ou François Broos. Estudou direcção de orquestra e terá sido uma das primeiras mulheres portuguesas a dirigir uma orquestra sinfónica, nomeadamente a Orquestra Sinfónica do Porto (1950).

Tal como a sua carreira abarcou um conjunto diversificado de actividades, também a produção artística abarcou diversos planos. Não só incluía inspirações da literatura e pintura nas suas obras musicais como escreveu um livro de ficção, Procurando uma flor no luar (1955), e se apresentou como pintora numa exposição individual no Palácio de Cristal em 1980.

A influência impressionista que a própria compositora identificava no seu estilo de escrita está presente na forma como descrevia as suas obras. Procurando criar ambientes psicológicos, emotivos ou paisagísticos numa linguagem moderna de gramática muitas vezes politonal, a produção musical de Berta Alves de Sousa inclui um conjunto vasto de obras, em que a música de câmara com piano é a modalidade em destaque. Entre as suas obras destacam-se Três PrelúdiosTremor de terra, Caixa de Música – piano solo; BerceuseDança exóticaQuinteto o Jovem ReiScherzo-marcha – música de câmara; Avé MariaA NoiteCanção MarinhaHá no meu peito uma porta – canto e piano; Poema Sinfónico “Vasco da Gama”Divertimento – orquestra; Stabat MaterBerceuse da BonecaS. João de Landim – coro. Compôs ainda obras inspiradas no folclore e cultura popular como Rosa d’Alexandria (coro), Variações sobre um cantar do povo (piano) e Variações sobre uma cantiga alentejana (trio). Várias das suas obras foram dedicadas a colegas do Conservatório de Música do Porto que as estrearam.

Desenvolveu um importante trabalho na divulgação da música portuguesa contemporânea através de conferências, palestras, crítica musical e recitais na Emissora Nacional. Sempre foi bastante elogiada pela imprensa nos diversos ramos da sua actividade, e foi reconhecida com o Prémio Moreira de Sá (1941) e com a Medalha de Prata da Cidade do Porto (1989).

António Sarmento Dias

Fontes:

Janete Ruiz. 2004. “Berta Alves de Sousa (1906-1997): Uma Compositora no Porto em Meados do Século XX: A Obra para Canto e Piano”. Dissertação de Mestrado, Universidade de Coimbra.

Manuscritos, notas biográficas, programas de concerto e recortes de jornal do espólio de Berta Alves de Sousa (Biblioteca do Conservatório de Música do Porto).